AS DOZE TRIBOS DE HATTIE
"As 12 tribos de Hattie" é o primeiro romance da escritora Ayana Mathis e tem como personagem central, Hattie Shepherd. Mãe de 11 filhos e esposa infeliz de um casamento desgastado, que passa por momentos de extrema pobreza.
A história começa apresentando a transição de Hattie, de menina á mulher, de filha á mãe de família, de esperançosa á amargurada; Tudo isso de duas maneiras e com apenas 17 anos de idade!
O primeiro modo é através de memórias do seu passado não tão distante, quando ainda vivia com sua mãe e irmãs; Quando saia da Georgia em direção a Filadélfia, a sua promessa.
"[...] Quatro garotas negras passaram, adolescentes como Hattie, conversando. Apenas garotas conversando, dando risadinhas á vontade, do jeito que somente as garotas brancas caminhavam e conversavam nas ruas das cidades na Geórgia. Hattie as seguiu com o olhar até o final do quarteirão. Finalmente, a mãe e as irmãs saíram da estação e se aproximaram dela. "Mamãe", disse Hattie. "Eu nunca mais vou voltar. Nunca mais."
O segundo modo, é através de um presente martirizante, que desestabiliza totalmente a menina.
"Hattie queria para os filhos, nomes que não estivessem gravados em lápides dos mausoléus de família da Georgia, por isso deu a eles nomes de promessa e esperança, buscando-os á frente, não no passado." "Filadélfia e Jubileu" (titulo do primeiro capítulo do livro), primeiros filhos da garota, eram respectivamente a promessa e esperança da jovem mãe; Mas infelizmente, seus pequenos morrem com poucos dias de vida, por conta de uma pneumonia; Eles se foram e levaram junto, toda a fé que Shepherd podia ter dentro dela.
Cada capítulo do exemplar é narrado por uma voz ligada a Hattie. Para alguns descendentes, a falta de carinho por parte da mãe influenciam diretamente em suas atitudes e personalidades; Para outros, nem tanto (ou eles pensam que não).
Deixando claro que as narrativas não giram em torno da influência da mãe (apesar de que alguns capítulos específicos, levam este fato como assunto principal). Cada um passa e narra uma situação que condiz com a sua realidade. A presença desta influência está nos detalhes,na lembrança ou na justificativa de alguma atitude. A verdade é que não há um capítulo em que a irredutível dureza da mãe, que nunca dava um sorriso dentro de casa, não seja citada ou refletida em alguma ação. Seja para demonstrar o quanto isso magoou ou até mesmo para admitir que essa arrogância teve lá seus benefícios.
Por mais que a obra gire em torno de afrodescendentes em épocas e locais onde a liberdade e a mistura das raças ainda não eram tão bem aceitas, os capítulos não relatam histórias de negros matutos. Muito pelo contrário! Tem médico renomado(e esnobe), musico, gay(numa época não se podia assumir que era nem mesmo para si), marinheiro, socialite infeliz e amargurada...
As doze tribos de Hattie é um livro envolvente, imprevisível e inteligente; Os acontecimentos presentes no primeiro capítulo são determinantes e exercem total influência no decorrer da trama.
Acredito que Ayana Mathis foi perfeita ao criar a memória emotiva de cada personagem. Alguns casos chegam a ser cortantes, como o de Sala, neta de Hattie que acaba sendo afastada da mãe que apresenta distúrbios mentais.
O que a já idosa Hattie faz por sua neta, mostra que por trás de toda amargura e grosseria, existe uma mulher forte que luta, acima de tudo, pela sobrevivência dos seus.
No Brasil, o livro foi publicado pela editora Intrínseca em março de 2014, pode ser encontrado nas principais livrarias de todo o país e o melhor de tudo: Por um preço totalmente acessível.